quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mário Quintana

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

"Os poemas", de Mário Quintana

Egito, Multiculturalismo e Povo

Como dito abaixo, o EGITO passa por momento de tensão em sua política interna. Mubarak não dá sinais de que irá renunciar e as manifestações devem continuar no dia de amanhã (11.02.2011).

Uma das razões apontadas para o desencadeamento das revoltas está relacionada ao aumento do preço das commodities - que restringiu o acesso a alimentos. A fome, portanto, é um dos elementos críticos nessa conjuntura.

A crise abre a discussão para a questão da Democracia nas nações islâmicas ou árabes. A pressão por uma transição ao regime democrático é feita principalmente (exclusivamente?) por países do Ocidente, numa perspectiva em que a Democracia é apresentada como panaceia dos conflitos políticos, sociais e econômicos.

É certo que “impor” a democracia é politicamente incorreto. Sob o viés do MULTICULTURALISMO, “é preciso respeitar as diferentes culturas, ainda que atrasadas e pautadas em valores estranhos à civilidade”.

Porém, nada mais presunçoso do que uma postura dessas, que reconhece no ocidente o supra-sumo da humanidade e olha para as civilizações “subdesenvolvidas” de cima para baixo.

Uma postura mais adequada está em reconhecer em determinada comunidade os anseios do POVO e lhes dar suporte, procurando saber o que pensa a sociedade – neste caso, egípcia – acerca de temas como liberdade, religião e democracia. Esta posição é respeitadora da autonomia dos povos árabes – baluarte constitucional – e, ainda, profícua na busca de soluções conjuntas para a resolução dos graves problemas que assolam os países africanos. É a posição de filósofos como Enrique Dussel e Alain Supiot.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Crise no Egito

O Egito tem passado por turbulências políticas, com a população saindo às ruas para pleitear o fim do regime ditatorial que existe no país há décadas. No início, o governo não deu mostras de que teria se sensibilizado com as manisfestações populares, mas aos poucos foi retoricamente adotando medidas e fazendo concessões para atender aos anseios populares.

Pois bem, eis o palpite: o recuo do governo é estratégico e visa permitir a manutenção dos líderes no poder. Caso sejam efetuadas outras medidas concessivas, é possível que a população se retraia e que Mubarak permaneça no poder. Caso contrário, cairá.
Já foi o tempo das coisas metafísicas
Das preocupações do além-vida
Não se trata de inferno ou purgatório
Nem de se lavar os pecados depois de cometê-los
Avancemos
Que depois de tudo superado
Depois de desancado o mundo
(com ele se foi grande parte de nossa existência)
Depois do ceticismo arraigado
Da medicina mais ou menos bem sucedida
Há ainda a vida, esse pesado fardo

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Violência Estrutural

Hoje pela manhã, na Globo News, informação de que houve 35 mortes no Estado de São Paulo devido aos alagamentos. Não se trata, porém, de desastre natural, mas de descaso do Poder Público - uma violência estrutural e institucional.


Aproxima-se cautelosamente. O passo fugaz, a cabeça olhando cá e lá sugerem o risco da empresa. Atravessa mais um obstáculo. O rio traiçoeiro dá sinal verde. Metais entrecortando o leito asfáltico. A caça está além-rio e a travessia é em faixa estreita. O dorso desconfortável sob a iluminação fluorescente é só mais uma barreira transponível. De longe, avista sua presa, imóvel, quase alegre só de ser vislumbrada. Caminha resoluto. Arqueia nas pontas dos pés, um urro da hérnia, a pata tosca lança o ataque. A gelatina está na prateleira de cima.

Oh, Senhor!

Oh, Senhor!
Por que não respondes?
Andei a procurar, tanto... onde
Onde errei?
Errei ao procurar?